Caracteriza-se um caso de desvio fonológico quando uma criança, no processo de aquisição da linguagem, apresenta particularmente limitações no inventário de segmentos e nas estruturas silábicas em comparação aos padrões considerados normais para o curso do desenvolvimento linguístico. Considerando que as teorias fonológicas contribuem para o entendimento da aquisição fonológica com desvios e para a proposição de modelos para avaliação e terapia de desvios fonológicos, foi proposto o presente estudo com o objetivo de descrever e analisar os padrões, bem como a especificidade de dois casos de desvio fonológico, verificando o comportamento das consoantes, com fundamento no Modelo Implicacional de Complexidade de Traços – MICT, proposto por Mota (1996). Justifica-se a escolha desse suporte teórico por considerar que os segmentos são constituídos de traços distintivos vistos como autossegmentos que, no processo de aquisição fonológica, compõem gradualmente as consoantes em uma ordem de complexidade crescente, com diferentes níveis de complexidade. A formalização dos segmentos é feita em estrutura arbórea. A metodologia da pesquisa incluiu duas meninas com fonologia atípica – P. (7anos) e D. (7anos e 1mês) –, falantes nativas de Português Brasileiro (PB), monolíngues, cujos dados linguísticos integram o Banco AQUIFONODES, pertencente ao PPG em Letras da UCPel. Feita a transcrição fonética dos dados, procedeu-se à determinação do inventário fonético e do sistema fonológico de cada menina. A seguir, descreveram-se, analisaram-se e formalizaram-se os resultados à luz do MICT, fazendo-se evidentes os padrões que caracterizam os sistemas fonológicos atípicos das meninas. Observou-se a especificidade de cada um dos casos de desvio, bem como o diferente grau de severidade apresentam. O poder explicativo da análise sob o prisma do MICT foi comparado a uma análise de desvios com o suporte de processos fonológicos, chegando-se à discussão de oferecimento de substrato para procedimentos terapêuticos.